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Brook Busey havia acabado de sair de uma das quatro lojas em Minneapolis especializadas em vestir strippers; uma das quatro que não faziam a menor questão de manter um disfarce como loja de lingerie, não, estava ali para atender à curiosamente vasta clientela de moças, rapazes, travestis ou transexuais cuja ocupação profissional passava por girarem nus agarrados a um poste de ferro. As fantasias, os desejos e perversões parecem sempre vindos de lugar nenhum e estava sendo daquele modo com ela. Desde que passara em frente à Skyway Louge pela última vez, estava convencida de que gostaria de ser como eles. Apareça amanhã, havia dito o segurança daquela casa. Quinta categoria, garçonetes semi-vivas atravessando as mesas com os peitos siliconados de fora, senhores gordos e muita baba... Brook Busey apareceria lá e faria o teste de stripper e exibiria a bunda flácida, a falta de coordenação motora junto com o corpo magro demais em troca de 200 dólares. E faria por prazer.
O lançamento de “Minha Vida de Stripper” reacende interesses em torno da intrigante figura de Brook Busey, ou melhor, de Diablo Cody; a ex-stripper que ganharia o Oscar 2008 pelo roteiro do filme Juno, seu primeiro roteiro. Que adjetivo melhor que intrigante para qualificá-la? Diablo Cody cresceu como uma das mais comuns mocinhas de Illinois, estudante de colégio católico cujo comportamento irrepreensível durante a faculdade de Comunicação lhe rendeu a formatura em pontuais oito semestres. Com o diploma nas mãos e casada com o namorado que conhecera na internet, acabou indo morar em Minneapolis onde arrastava um trabalho tedioso de digitadora.
Diablo Cody relata as memórias do escritório que detestava e dos passos que a levaram a subir pela primeira vez num palco para tirar a roupa por dinheiro. Ágil, divertido, desbocado e cheio das tiradas afiadas, embora boa parte do ritmo tenha se perdido no caminho da tradução do original (Candy Girl: A Year in the Life of an Unlikely Stripper, 2005). Mas a essência da história está lá: o fascínio imediato pelo mundo das diversões sexuais, o apoio de seu companheiro à época, a máfia, a efetivação na boate barata e a mudança para uma maior, a demissão do emprego, o sexo por telefone, os momentos ridículos e violências a que acabou se expondo. Tudo escrito numa ausência de filtros ou julgamentos morais, deixando antever o formato das reflexões que a consagraria em Juno – a história da adolescente grávida que resolve encontrar uma família que adote seu filho é perturbadora justamente por essa certa frieza diante de fatos complicados.
Apesar do relato tão humano, Diablo Cody está longe de ser uma figura amada por seus colegas - o desgosto dos escritores, do pessoal da TV e do cinema é latente. Ela está hoje envolvida em colaborações com Steven Spielberg e na pós-produção do novo filme que traz Megan Fox (Transformers) no papel de uma cheerleader canibal (?!). O ressentimento pode ser visto em julho na Variety em um artigo sobre o quanto ela era medíocre e oportunista. A ex-stripper não se furtaria uma resposta ao autor: enquanto você gravava a sua obra prima que não deu certo eu estava enfiando brinquedos de silicone tóxicos no ãnus por dinheiro. Entendo porque vocês são tão azedos (...) Me desculpa se você pensa que eu sou algum tipo de vagabunda Suicide Girl de 2002, mas eu gosto do meu nome falso. Está gravado em um Oscar. O seu não. De doer.
Texto e desenho publicados no Obvious.